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20.3.17

Texto - O refugio dos Piruceiras


Há vários dias caminhava pelos trilhos de São Cri calho; e andando, até conseguia pensar na tristeza da pobre vida que até ali tinha tido; o céu tão escuro permitia imaginar galáxias, sistemas solares, planetas e luas giratórias.

A noite estava linda; os meus pensamentos nem por isso: malvada doença que impedia os meus sonhos…

Caminhando, andando, deambulando sem destino, acabei por me encontrar numa cidade a sul da Europa chamada Barreiro.

Estava cansado, exausto; para onde ir?

Lembrei-me subitamente que naquele sítio até tinha família. De imediato me lembrei da minha Tia Manela… Bati à porta suavemente, com respeito e quase amedrontado… mas fui recebido com o sorriso do Mundo!

Há muito que não via os meus tios; tinha andado pelo Mundo mandado pelos patrões, muito tinha sofrido – no meio de alegrias também – mas quando vi os meus tios tive de reprimir certas lágrimas contidas e mandadas  desde sempre pela educação dos meus pais.

Fui recebido de forma extraordinária: um quarto só para mim, comidinhas excelentemente confeccionadas pela extraordinária cozinheira de tia, historias rocambolescas contadas pelo meu tio, visitas permanentes das minhas primas, lambedelas de todos os animais de estimação, afeição de Amigas e Amigos… Um Mundo maravilhoso.

Gosto disto; Sou assim e é assim; a educação perdura: para o mal tenho defesas; para o bem, bondade tenho também.

Isto é o episodio muito sintético da vida de um homem banal.

Barreiro, 20 de marco de 2017.

JoanMira 

17.3.17

Texto - "Bonux e velhos tempos"

Aqueles velhos e meninos tempos de 1963, ficam para sempre na minha memória como uma imagem de nostalgia e de Paraíso perdido.  

Tinha eu 12 anos e o meu "fedelho" de bébé-irmã apenas quatro. Naquela casa, onde vivemos, na rua Gambetta em Dax, muitíssimo "aconchegados", havia muita alegria apesar do espaço ser restrito a duas divisões: o quarto dos meus pais e um "hall de entrada/cozinha/casa de jantar/sala de estar com 10 m2 que servia também de quarto para os filhos... E ali dormíamos os dois, cabeça contra pés, num canapé de "estilo tipo verde skai",  "construído" pelo pai (como muitos outros moveis), com molas de ferro forradas de uma espécie de palha  que as não impedia de atravessar o meu derma sensível e de me aleijar os frágeis ossos até ao amanhecer...

Mas havia um dia da semana que eu esperava ansiosamente: o dia das compras; entre elas havia sempre o inevitável "Bonux" que lavava tão branco que deixava a roupa mais branca que branca! Queria lá saber! O objecto da minha impaciente ansiedade era abrir a caixa para desvendar o prémio/segredo que ela continha.

E era, então, uma maravilha: bonecos em "kit", soldadinhos de plástico pintado, carrinhos de luxo das marcas Simca, Talbot, Peugeot, Citröen... Que alegria!

Depois, passava horas a organizar corridas no rebordo da única bacia existente, no quarto dos meus pais entre concorrentes improváveis: carros, bonecos, barcos, soldados e carrinhos... Cumulo da felicidade, ganhava sempre quem eu queria até chegar à semana seguinte em que poderia ter sorte o "forasteiro" que chegasse... Nada de menos certo... 

Bordeaux, 20-02-2016


JoanMira