Era um homem de baixa estatura, franzino, cabelo negro e bigodaça farfalhuda; soube que fugiu de Portugal apos ter cometido a "proeza" de esfaquear o cunhado Pinto “à falsa fé”; o Amadeu, era, pois, um homem perigoso porque desprovido de coragem.
Naquela cidade pacata do sul de França, o Amadeu quis perpetuar a sua bélica lenda, provocando toda e qualquer pessoa que passasse ao seu alcance; mas aquela comunidade de portugueses da “construção”, gente trabalhadora, honesta, habituada aquela justiça dita de Fafe, não achou graça nenhuma aos talentos do provocador; e não era raro o dia (noite, antes) que o Amadeu não “embrulhasse” e chegasse a casa com o corpo e a cabeça amolgados.
Levava sovas de meia-noite, mas não tinha emenda e, no dia seguinte, estava pronto para outra… Como se nada tivesse acontecido, resmungava, de dentes cerrados, e acabava por arranjar sarilhos, debaixo de estado tão etílico que nem sentia a porrada. Foi dessa atitude resmungona e bélica que lhe ficou a alcunha de “Rilha-Cacos”.
Um dos muitos episódios das sua séries teve como protagonista o meu pai; português honesto, rude, trabalhador e do sul, ao volante do seu “Panhard” cor de laranja, cruzou casualmente, um dia à noite, as imediações do “Rilha-cacos” pilotando, bêbado claro, a sua velha motorizada. Não sei porque carga de água, o Amadeu quis que lhe saísse a rifa; mas certo é que se ouvia lindamente a algazarra dos seus berrosr; olhava para o meu pai que mantinha um fleugma todo britânico ignorando as vociferações.
Era uma noite de gélido luar; as estrelas tiritavam e a pouca sorte espreitava o “Rilha-Cacos”; obrigado a parar no “fogo ruge” (semáforo), revejo a cena: de fora os insultos e obscenidades aumentavam… e o meu pai, puxando o travão de mão, saindo lentamente do carro, sem uma palavra… Advinhava-se repentino e violento temporal...
E... subitamente um chapadão tremendo ecoou na noite serena; motorizada para um lado, Rilha-Cacos” para o lado oposto… Meu pai de novo sentado ao volante, com toda a calma do mundo, sem nada dizer, rumando a casa…
Andorra, 12 de Setembro de 2011
JoanMira