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25.2.18

Texto - E a minha tia Celeste cantava o Fado - 1957



Naqueles belos anos todos cantavam ; o João Maria Tudela, a Emissora Nacional, o Rádio Clube… Beatriz Costa, Maria de Lurdes Rezende…e quando cansados de tanto cantar na Rádio, vinham alguns reclames tipo, “Tide a lavar e eu a descansar”… E chegava, enfim, o que mais ansiávamos: Os Parodiantes de Lisboa! “Patilhas e Ventoinha” marcaram para sempre a minha meninice…

Televisão, Internet, tecnologias que hoje nos são habituais, nem sequer imaginar…

Telefone não existia para a nossa classe; íamos a casa de uns e outros sem prevenir nem hora marcada; éramos recebidos com a naturalidade dos familiares bem-vindos…

De quando em vez, ouvia-se cantar o fado; por vezes numa rara telefonia… Mas, na maioria dos casos, eram vozes bem conhecidas; a minha tia Celeste era uma delas!

E eram as incessantes corridas entre putos; partiam da avenida da Bélgica, davam a volta ao quarteirão, passando pelo Beco da Adega e, por vezes, atravessavam a “avenida” sem automoveis. Cruzavam por vezes velhas carrossas com rodas em “cauthcu” que as tornavam um pouco mais silenciosas.

Ao fim do dia, quase ao anoitecer, era tempo de começar as partidas: tocar às campainhas, atirar lixo contra as montras, desafiar capicuas (guardas republicanos a cavalo), levar de “cavalo marinho” para alguns, “curtir” como se diz hoje em dia.


Foi a minha meninice no Barreiro; tinha então todos os seres amados, entretanto desaparecidos, de que tenho todas as saudades do Mundo!


Bordeaux, 25 de Fevereiro de 2016
JoanMira