Texto - Quando os nobres se irritam

Dom José Carvalho da Esteira acordou mal disposto ; durante a noite tinha tido um pesadelo horrível ! Dono latifundiário do que até ao horizonte podia ver, encontrava-se agora desapossado de todos os seus bens…

Irritassimo , abafou um certa expressão malcriada, engoliu apressadamente o pequeno almoço de café morno e torradas mais que torradas, expulsou da sua vista a bondosa criada , mandou selar o cavalo, enfiou qualquer roupa que ao seu alcance se encontrava, mandou um palavrão para não perder o habito e finalmente montou o desesperado cavalo.

Seu intuito era de uma simplicidade banal : encontrar-se com Dom Martinho de Aguilar. Pedir-lhe razões. Nem sequer já se lembrava que a origem da sua ira fora o pesadelo da véspera. A Dom José, mesmo agora já bem acordado, nada o iria mesmo assim  desviar da sua nobre missão: arrebentar os dentes e furar quanto a sua espada pudesse, a Dom Martinho!

Depois de valorosa cavalgada chega enfim ao destino.

Apresentam-se vários serventes; apeando-se do cavalo, ignora os seres masculinos, dirige-se à senhora presente, apalpa as mamas, como era seu habito, à criada e, com voz alta, rouca e irritada pergunta:

- Esta D. Martinho de Aguilar?!!!

- Sim Vossa Excelência mas neste momento esta a defecar.

Aumentou a irritação do nobre cavaleiro.

- E quanto tempo vai durar? É que preciso, com urgência  lhe falar!

O tempo ia passando e a cólera de D. José progressivamente aumentando…

Quando, subitamente, começa a chegar D. Martinho; mão esquerda segurando os suspensórios e mão direita atrás.

- D. Martinho, diz D. José, venho a sua casa para defender a minha honra; você é um ladrão!

- Desculpe D. José, já roubei a muita gente, mas a si não roubei nada!

- Mentiroso, atira D. José.

Dom Martinho de Aguilar nada responde mas com a sua mão direita atira à face do impetrante um cagalhoto torneado e fumegante.

E o Povo aplaudiu!

29-04-2017

JoanMira