Ao chegar ao quais, porém, logo tive uma suspeita desagradável ; Uma centena de passageiros, entre os quais alguns portugueses, esperavam enjaulados por uma rede metálica na qual se inseria um minúsculo portão ; do outro lado, um funcionário autoritário, prepotente e miudinho, fiscalizava os passaportes : Ta tudo bem, pode avançar ! « Para onde ? ». Siga em frente...
Chegado à porta de entrada, deparei-me com uma senhora deficiente física, de uma certa idade e com muletas ; a pobre da senhora tinha as maiores dificuldades em trepar os degraus íngremes vendo-se logo a seguir confrontada com a estreiteza do corredor que mal deixava passar uma pessoa muito magra.
Olhei para o empregado « armado em revisor », um tipo mal vestido, com ar de funcionário do antigo regime, paternalista, um olhar vicioso de atrasado mental mas vaidoso apesar de tudo... Mas aquela alma ficou estática e fui eu que tive de ajudar a senhora...
Tive, no entretanto, oportunidade de observar o aspeto exterior do comboio : Era muito antigo, tipo anos sessenta... : carruagens cor metal que certamente em tempos foi branco, agora asfixiado pela sujeira que delas há muito se tinha apoderado.
A viagem ia começar ; o meu suplicio também !
Ao entrar no meu compartimento, as suspeitas logo se confirmaram : cheirava muito mal e a carruagem estava, sem duvidas, zangada com a higiene. Poupo ao leitor pormenores...
Chamado o revisor fui « notificado » que o cheiro era normal e que ele e os seus dois colegas já muito faziam... Com efeito, os 3 personagens eram simultaneamente revisores, barmen, cozinheiros, empregados de limpeza e de mesa !...
Escusado será dizer que não jantei naquela pocilga e deitei-me na esperança de conseguir dormir entre mau cheiro e barulheira insuportável.
Como é possível nos dia de hoje ser transportado num autêntico vagão de gado a preço proibitivo ! Em que País ? Não, não era no Bangladesh. Era um comboio que a RENFE « explorava » com a CP e a viagem era com destino a Lisboa...
19-08-2019
JoanMira